- 3.º período - trabalhos a desenvolver; prazos.
- Escolha do conto - trabalho individual, em aula e em casa.
[…]
Minha
velha tia costumava adormecer-me cantando-me
(Se
bem que eu fosse já crescido demais para isso)...
Lembro-me
e as lágrimas caem sobre o meu coração e lavam-no da vida,
E
ergue-se uma leve brisa marítima dentro de mim.
Às
vezes ela cantava a «Nau Catrineta»:
Lá
vai a Nau Catrineta
Por
sobre as águas do mar...
E
outras vezes, numa melodia muito saudosa e tão medieval,
Era a
«Bela Infanta»... Relembro, e a pobre velha voz ergue-se dentro de mim
E
lembra-me que pouco me lembrei dela depois, e ela amava-me tanto!
Como
fui ingrato para ela — e afinal que fiz eu da vida?
Era a
«Bela Infanta»... Eu fechava os olhos e ela cantava:
Estando
a Bela Infanta
No
seu jardim assentada
Eu
abria um pouco os olhos e via a janela cheia de luar
E
depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz.
Estando
a Bela Infanta
No
seu jardim assentada,
Seu
pente de ouro na mão,
Seus
cabelos penteava
Ó meu
passado de infância, boneco que me partiram!
[…]
s.d. Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática,
1944 (imp. 1993). - 162. 1ª publ. in Orpheu, nº2. Lisboa:
Abr.-Jun. 1915.
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