terça-feira, 10 de abril de 2012


26.ª semana ~ de 10 a 13 de abril







  • 3.º período - trabalhos a desenvolver; prazos.
  • Escolha do conto - trabalho individual, em aula e em casa.




[…]
Minha velha tia costumava adormecer-me cantando-me
(Se bem que eu fosse já crescido demais para isso)...
Lembro-me e as lágrimas caem sobre o meu coração e lavam-no da vida,
E ergue-se uma leve brisa marítima dentro de mim.
Às vezes ela cantava a «Nau Catrineta»:

Lá vai a Nau Catrineta
Por sobre as águas do mar...

E outras vezes, numa melodia muito saudosa e tão medieval,
Era a «Bela Infanta»... Relembro, e a pobre velha voz ergue-se dentro de mim
E lembra-me que pouco me lembrei dela depois, e ela amava-me tanto!
Como fui ingrato para ela — e afinal que fiz eu da vida?
Era a «Bela Infanta»... Eu fechava os olhos e ela cantava:

Estando a Bela Infanta
No seu jardim assentada

Eu abria um pouco os olhos e via a janela cheia de luar
E depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz.

Estando a Bela Infanta
No seu jardim assentada,
Seu pente de ouro na mão,
Seus cabelos penteava

Ó meu passado de infância, boneco que me partiram!
[…]


s.d. Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).  - 162. 1ª publ. in Orpheu, nº2. Lisboa: Abr.-Jun. 1915.

 
 
 


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