sábado, 26 de janeiro de 2013


18ª. semana ~ de 28 de janeiro a 1 de fevereiro




Sandro Botticelli. Primavera

- aqui -


Rafael, As Três Graças

- aqui -


Leonardo da Vinci. Leda e o cisne

- aqui -



  • Camões - a mulher.



Um mover de olhos, brando e piedoso
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;

Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Uma pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;

Um encolhido ousar; uma brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento:

Esta foi a celeste fermosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.

Luís de Camões



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 - também aqui

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sábado, 19 de janeiro de 2013


17ª. semana ~ de 21 a 25 de janeiro










  • Camões - influência tradicional.
  • "Verdes são os campos" - pág. 169 do manual.

  • "Descalça vai para a fonte"


   MOTE

Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
vai fermosa, e não segura.

VOLTAS

Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a neve pura;
vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
cabelos d’ ouro o trançado,
fita de cor d’ encarnado,
tão linda que o mundo espanta;
chove nela graça tanta
que dá graça à fermosura;
vai fermosa, e não segura.

Luís de Camões (1524? - 1580)






segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


16ª. semana ~ de 14 a 18 de janeiro




Georgia O'Keeffe, Blue Morning Glories

- aqui -


  • A lírica camoniana.


  • Ler e ouvir Camões.





 Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Luís Vaz de Camões, Rimas






















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Prémio Literário António Arroio - 

"Escrever com arte" - regulamento



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


15ª. semana ~ de 7 a 11 de janeiro




Paul Klee. Strong dream. 1929.

-  aqui  -





  • "Ouvir o silêncio a ler".
  • Apreciação crítica da atividade. 
  • Pastiche. Colagem.
  • De versos escolhidos a um novo poema  - próprio.

  •  (5 vídeos de ) Os Grandes Portugueses - RTP1 - Prof. Helder Macedo: Camões.





«[…] foi Camões que deu à nossa língua este  aprumo de vime branco, este juvenil ressoar de abelhas, esta graça súbita e felina, esta modulação de vagas sucessivas e altas, este mel corrosivo da melancolia»
Eugénio de Andrade, Poesia e Prosa 



A Camões

Quando n’alma pesar de tua raça
A névoa da apagada e vil tristeza,
Busque ela sempre a glória que não passa,
Em teu poema de heroísmo e de beleza.

Gênio purificado na desgraça,
Tu resumiste em ti toda a grandeza:
Poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça
O amor da grande pátria portuguesa.

E enquanto o fero canto ecoar na mente
Da estirpe que em perigos sublimados
Plantou a cruz em cada continente,

Não morrerá, sem poetas nem soldados,
A língua em que cantaste rudemente
As armas e os barões assinalados.

Manuel Bandeira, Antologia Poética



A Luís de Camões

Sem lástima e sem ira o tempo arromba
As heróicas espadas. Pobre e triste
À tua pátria nostálgica voltaste,
Ó capitão, para nela morrer
E com ela. No mágico deserto
Tinha-se a flor de Portugal perdido
E o áspero espanhol, antes vencido,
Ameaçava o seu costado aberto.
Quero saber se aquém da ribeira
Última compreendeste humildemente
Que tudo o perdido, o Ocidente
E o Oriente, o aço e a bandeira,
Perduraria (alheio a toda a humana
Mutação) na tua Eneida lusitana.
                   
                                 Jorge Luís Borges - Tradução de Miguel Tamen




quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


14ª. semana ~ de 3 a 4 de janeiro


Carlos Carreiro. Pirilampos visitam rainha de copas. 2002

- aqui







2.º período

  •          Texto poético:

o   Camões lírico;

o   Poetas do séc. XX



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A poesia, sim, é um jogo de palavras, como um quadro é uma combinação de formas e cores.
António Ramos Rosa, A Poesia Moderna e a Interrogação do Real


Ver claro

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede




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11.º ano - turma n

11.º ano - turma n


Eugénio de Melo e Castro

Alice manuscript

- aqui -



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terça-feira, 1 de janeiro de 2013


1.1.2013










Receita de ano novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade

(aqui)