sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014


20.ª semana ~ de 24 a 28 de fevereiro











CANTIGA ALHEIA

Na fonte está Lianor
lavando a talha e chorando,
às amigas perguntando:
«Vistes lá o meu amor?»

VOLTAS DO CAMÕES

Posto o pensamento nele,
porque a tudo o Amor a obriga,
cantava; mas a cantiga
eram suspiros por ele.
Nisto estava Lianor
o seu desejo enganando,
às amigas perguntando:
Vistes lá o meu amor?

O rosto sobre üa mão,
os olhos no chão pregados,
que, do chorar já cansados,
algum descanso lhe dão.
Desta sorte Lianor
suspende de quando em quando
sua dor; e, em si tornando,
mais pesada sente a dor.

Não deita dos olhos água,
que não quer que a dor se abrande
Amor; porque, em mágoa grande,
seca as lágrimas a mágoa.
Que despois de seu amor
soube novas perguntando,
d' emproviso a vi chorando.


Olhai que extremos de dor!





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BY ROBERT FROST

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.



(tradução enviada por um amigo,  desconheço a autoria)


Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia...

Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.

E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.

Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.

Robert Frost



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014


17.ª - 18.ª - 19.ª semanas ~ de 3 a 19 de fevereiro




Exposição “Visões – o interior do olho humano

Data: até 29 de junho de 2014
Local: Sala da Cortiça, Museu de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa





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Olhos

Olhos:
brilhantes da chuva que caiu
quando Deus me mandou beber.

Olhos:
ouro, que a noite me contou nas mãos,
quando colhi urtigas
e fiz arrepender as sombras dos Provérbios.

Olhos:
noite, que sobre mim resplandeceu, quando escancarei o portão
e atravessado pelo gelo invernoso das minhas fontes
saltei pelos lugares da eternidade.


Paul Celan, in Papoila e Memória
Tradução de João Barrento e Yvette K. Centeno



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Poemas de Reinaldo Ferreira - aqui