segunda-feira, 2 de maio de 2011


29.ª semana ~ de 2 a 6 de Maio






Manet, Déjeuner sur l'herbe ~ aqui



A analogia entre o poema e uma aguarela é totalmente justificada. “De Tarde” é um quadro impressionista transposto em palavras – um “Déjeuner sur l’herbe” – que especificamente se dirige à imaginação visual do leitor: no primeiro plano, o vermelho intenso das papoulas que emergem de um decolleté rendilhado contrasta, em cor e textura, com as “duas rolas” brancas dos seios de uma rapariga que sobressai de entre os pequenos grupos que merendam, sentados em volta de dourados melões, damascos, um bolo, uma garrafa de vinho doce:

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o Sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão-de-ló molhado em malvasia.

No fundo, os “burricos” pardos, o azul surpreendente de um campo, e o sol vermelho do fim da tarde.

Os pormenores da composição podem variar na imaginação individual de cada leitor, mas o seu ponto dominante tem inevitavelmente de ser o “ramalhete rubro das papoulas”:

Mas, todo púrpuro a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas!

Helder Macedo, in Nós: Uma Leitura de Cesário Verde, Lisboa, Plátano Editora, 1975





Ana Teresa ~ 11.º ano ~ turma-n

[…] uma merenda ao pôr do sol com “…talhadas de melão, damascos / E pão-de-ló molhado em malvasia”. Pouco antes da merenda uma rapariga, que imaginamos loira, pois era de loiras que Cesário gostava, descendo do inevitável “burrico” – dizemos inevitável por os jumentos constituírem nessa época um atributo tão essencial nos pic-nics como no século XVIII os carneiros nas festas campestres – vai colher

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.

E, com ele entalado nas rendas do seio, acampa depois “em cima duns penhascos” onde há doces, frutas e garrafas de vinho fino… É tudo. Mas este pouco basta. A fugitiva impressão, o quadrinho apenas esquissado, com as suas flores campestres, a sua paleta azul e vermelha, a sua sugestão de seios femininos dão-nos, na verdade, uma sensação de sensualidade repousada e feliz. Estamos, não há dúvida, perante um Renoir – e dos autênticos.

João Pinto Figueiredo, in Cesário Verde – A obra e o Homem, Lisboa, Arcádia, 1981



**** voluntário(s), há? - para fazer a leitura de:



Pál Szinyei Merse, Piquenique, 1873



Picasso, Le déjeuner sur l’herbe – “O almoço sobre a relva”
(d’après Edouard Manet), 1960 ~aqui




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