segunda-feira, 7 de outubro de 2013


3.ª semana ~ de 7 a 11 de outubro





imagem: aqui



  • Autorretrato.
  • Leitura de textos.
  • Biblioteca da Escola - visita guiada.
  • Funções sintáticas. Sujeito. Vocativo.

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Leituras:


1.

« O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um abanão. O estarim parecia deserto. Não senhor, alguém dormia meio encurvado, cabeça para fora no seu decúbito, que se agitou molemente. Volveu a soprar. Buliu-lhe a veste, deu mesmo um estalido em sua tela semi-rígida e imobilizou-se. Outro sopro. Desta vez o pinhão, como um pretinho da Guiné de tanga a esvoaçar, liberou-se da cela e pulou no espaço. Que pára-quedista!» 

de A Casa Grande de Romarigães, Aquilino Ribeiro

2.

   «A casa era grande, branca e antiga. Em sua frente havia um pátio quadrado. À direita um laranjal onde noite e dia corria uma fonte. À esquerda era o jardim de buxo, húmido e sombrio, com suas camélias e seus bancos de azulejo.
   A meio da fachada descia uma escada de granito coberta de musgo. Em frente dessa escada, do outro lado do pátio, ficava o grande portão que dava para a estrada.
   A parte de trás de casa era virada ao poente e das suas janelas debruçadas sobre pomares e campos via-se o rio que atravessa a várzea verde e viam-se ao longe os montes azulados cujos cimos, em certas, ficavam roxos.» 

de O Jantar do Bispo, Sophia de Mello Breyner Andresen



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de Antonio Machado
para ouvir: aqui e aqui
RETRATO

Mi infancia son recuerdos de un patio de Sevilla,
y un huerto claro donde madura el limonero;
mi juventud, veinte años en tierras de Castilla;
mi historia, algunos casos que recordar no quiero.
Ni un seductor Mañara, ni un Bradomín he sido
– ? ya conocéis mi torpe aliño indumentario? –
más recibí la flecha que me asignó Cupido,
y amé cuanto ellas puedan tener de hospitalario.
Hay en mis venas gotas de sangre jacobina,
pero mi verso brota de manantial sereno;
y, más que un hombre al uso que sabe su doctrina,
soy, en el buen sentido de la palabra, bueno.
Adoro la hermosura, y en la moderna estética
corté las viejas rosas del huerto de Ronsard;
mas no amo los afeites de la actual cosmética,
ni soy un ave de esas del nuevo gay-trinar.
Desdeño las romanzas de los tenores huecos vazio
y el coro de los grillos que cantan a la luna.
A distinguir me paro las voces de los ecos,
y escucho solamente, entre las voces, una.
¿Soy clásico o romántico? No sé. Dejar quisiera
mi verso, como deja el capitán su espada:
famosa por la mano viril que la blandiera,
no por el docto oficio del forjador preciada.
Converso con el hombre que siempre va conmigo
– ¿ quien habla solo espera hablar a Dios un día? –
mi soliloquio es plática con ese buen amigo
que me enseñó el secreto de la filantropía.
Y al cabo, nada os debo; debéisme cuanto he escrito.
A mi trabajo acudo, con mi dinero pago
el traje que me cubre y la mansión que habito,
el pan que me alimenta y el lecho en donde yago.
Y cuando llegue el día del último vïaje,
y esté al partir la nave que nunca ha de tornar,
me encontraréis a bordo ligero de equipaje,
casi desnudo, como los hijos de la mar.

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RETRATO

 

Minha infância são memórias de um pátio de Sevilla,
e um claro pomar onde matura o limoeiro;
a juventude, vinte anos em terras de Castilla;
minha história, casos que não lembro por inteiro.
Sequer Manãra fui, nem Bradomín eu sou
– já conheceis meu torpe alinho costumeiro? –
mas recebi a flecha que Cupido me atirou,
e amei quanto elas possam ter de hospitaleiro.
Em minhas veias corre sangue jacobino,
porém meu verso brota de manancial copioso;
e, mais que simples homem que segue seu destino,
no bom sentido da palavra, sou bondoso.
Adoro a formosura, e na moderna estética
cortei as velhas rosas do horto de Ronsard;
mas não amo os enfeites da atual cosmética,
nem sou uma ave dessas do novo gay-trinar.
Desdenho as romanças dos vazios tenores
e o coral de grilos que para a lua canta.
Fico a distinguir nas vozes os cantores
E, entre as vozes, somente uma encanta.
Sou clássico ou romântico? Não sei. Deixar queria
meu verso, como deixa o capitão sua espada:
famígera pela mão varonil que a brandia
não pelo douto ofício do forjador prezada.
Converso com o homem que sempre vai comigo
– quem fala só espera falar com Deus um dia? –;
meu solilóquio é prática com esse bom amigo
que me ensinou segredos da filantropia.
E ao fim, nada vos devo; deveis-me todo o escrito.
A meu trabalho acudo, com meu dinheiro ajeito
o traje que me cobre e a mansão que habito,
o pão que me alimenta e a cama onde me deito.
E ao chegar o dia da última viagem,
e esteja pronta a nave que nunca há de tornar,
me encontrareis a bordo livre de equipagem,
quase desnudo, tal os filhos deste mar.





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