Afonso, no entanto, perguntava também ao Ega pela comédia. O quê! Já abandonada?
Quando acabaria então o bravo John de fazer bocados incompletos de obras-primas?...
- Ega queixou-se do país, da sua indiferença pela arte. Que espírito original não esmoreceria, vendo em torno de si esta espessa massa de burgueses, amodorrada e crassa, desdenhando a inteligência, incapaz de se interessar por uma ideia nobre, por uma frase bem feita?
- Não vale a pena, sr. Afonso da Maia. Neste país, no meio desta prodigiosa imbecilidade nacional, o homem de senso e de gosto deve limitar-se a plantar com cuidado os seus legumes. Olhe o Herculano…
- Pois então – acudiu o velho – planta os teus legumes. É um serviço à alimentação pública. Mas tu nem isso fazes.
Carlos, muito sério, apoiava o Ega.
- A única coisa a fazer em Portugal – dizia ele – é plantar legumes, enquanto não há uma revolução que faça subir à superfície alguns dos elementos originais, fortes, vivos, que isto ainda encerre lá no fundo. E, se se vir então que não encerra nada, demitamo-nos logo voluntariamente da nossa posição de país para que não temos elementos, passemos a ser uma fértil e estúpida província espanhola e plantemos mais alguns legumes!
O velho escutava com melancolia estas palavras do neto, em que sentia como uma decomposição da vontade, e que lhe pareciam ser apenas a glorificação da sua inércia.
Eça de Queirós, Os Maias, cap. XII
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