|  | 
| Dali. The Disintegration of the Persistence of Memory 
 - aqui -
 
 
  | 
- Diário. - Manual, pp.: 115-119. "Escrever um diário"
 
- Memórias. - Texto de Isabel Ruth, pág. 122.
 
O PROFISSIONAL DA MEMÓRIA
Passeando presente dela
pelas ruas de Sevilha,
imaginou injetar-se
lembranças, como vacina,
para quando fosse dali
poder voltar a habitá-las,
uma e outras, e duplamente,
a mulher, ruas e praças.
Assim, foi entretecendo
entre ela, e Sevilha fios
de memória, para tê-las
num só e ambíguo tecido;
foi-se injetando a presença
a seu lado numa casa,
seu íntimo numa viela,
sua face numa fachada.
Mas desconvivendo delas,
longe da vida e do corpo,
viu que a tela da lembrança 
se foi puindo pouco a pouco;
já não lembrava do que
se injetou em tal esquina,
que fonte o lembrava dela,
que gesto dela, qual rima.
A lembrança foi perdendo
a trama exata tecida
até um sépia diluído
de fotografia antiga.
Mas o que perdeu de exato
de outra forma recupera:
que hoje qualquer coisa de um 
traz da outra sua atmosfera.
João Cabral de Melo Neto. Museu de
Tudo, pp. 401-402.