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Bocage, desenhado por Roberto Nobre (Revista Turismo, nº 59, Agosto-Setembro.1944)
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- Manual - textos pp. 144-145.
- Autorretrato: Bocage, Alexandre O'Neill.
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Álvaro
de Campos
I
- Quando olho para mim não me percebo.
I
Quando
olho para mim não me percebo.
Tenho
tanto a mania de sentir
Que
me extravio às vezes ao sair
Das
próprias sensações que eu recebo.
O
ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem
ao meu modo de existir,
E
eu nunca sei como hei-de concluir
As
sensações que a meu pesar concebo.
Nem
nunca, propriamente, reparei
Se
na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei
tal qual pareço em mim? Serei
Tal
qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo
ante às sensações sou um pouco ateu,
Nem
sei bem se sou eu quem em mim sente.
Lisboa,
(uns seis a sete meses antes do Opiário) Agosto 1913
1915
“Três
Sonetos” Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica.
Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa:
Estampa, 1993. [- aqui-]